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segunda-feira, 9 de julho de 2018

Palestra: A doença mental sobre o olhar da escuta psicanalítica


Palestra: A doença mental sobre o olhar da escuta psicanalítica
José Jacques

Quando eu comecei o grupo, eu e minha colega psicóloga, que agora saiu do grupo, tínhamos a ideia de dar um espaço para os paciente poderem falar. Um grupo de conversa, onde eles pudessem falar, relatar suas angustias. Não é um grupo terapêutico, no sentido em que não buscamos uma terapêutica pois isso iria contra as normas do CRP e poderia afetar a relação deles com seus psiquiatras.
Mas era um espaço de fala. Notamos que muitos desses pacientes não faziam terapia, apenas acompanhamento médico. Obviamente qe os psiquiatras também conversam com eles, mas não é uma terapia exclusiva da fala, como seria uma terapêutica psicanalítica.
O grupo não visa ser terapêutico. No entanto, com o passar do tempo muitas coisas foram constatadas, o que implicou modificar a direção do grupo com uma escuta mais psicanalítica. A psicanálise entra meio enviesada no grupo, não é uma análise propriamente, até porque não há psicanálise me grupo, mas ela permite nos dar instrumentos para pensar como trabalhar com o grupo.

Em primeiro lugar, foi fácil constatar que as queixas dos pacientes se assemelham em muito as queixas dos neuróticos. Sempre são situações de angústia, lidar com a perda de alguém querido, com problemas financeiros, lidar com pessoas que nos destratam, enfim. Lidar com a castração, com essa angústia diária, lidar com o fato de que o mundo não é como imaginamos e que nós somos limitados, não conseguimos dar conta de tudo.
Assim, no começo do grupo falávamos para eles de terem uma alimentação natural, fazerem exercícios, procurar lidar melhor com os familiares, etc. Ter uma vida social mais ativa. Enfim, bons conselhos, que servem para nós também, mas que em geral, fracassam ali ou aqui. Sempre há um fracasso, uma impossibilidade de sermos perfeitos, de termos uma vida perfeita.
Freud já teorizava isso quando falava da miséria cotidiana. Como observou Lacan, em toda a obra de Freud, ele nunca fala de felicidade. Freud nunca promete a felicidade. Promete que estaremos mais aptos a trabalhar, resolver problemas. A vida humana é uma série de conflitos e nós mesmos somos uma espécie dialética, mudamos de opinião, de posição, temos a liberdade de modificar nossos conceitos e daí mesmo é onde opera a psicanálise.
Portanto, o grupo em primeiro lugar falava de um fracasso. Um fracasso em fazer os pacientes terem uma vida mais social, em eles conseguirem controlar melhor suas vidas, estarem mais estruturados.
Fracassávamos mesmo em conseguir organizar o grupo para fazer um passeio. Foi então que eu pensei, o que estaria do outro lado do fracasso? Porque vários pacientes não queria ter uma vida social mais ativa por exemplo? O que eles queria na verdade, qual seu desejo?
É então que o grupo passa a ter outra direção, onde se busca escutar os pacientes. O que eles realmente querem? O que desejam? Não se trata mais de trabalhar eles para irem nos passeios do CPIP, mas de interrogar porque eles não vão? O que eles querem então fazer?
Essa mudança é importante. Como dizia uma colega minha psicanalista, é quando Freud deixa de falar e começa a escutar, que as coisas mudam de figura. Ao escutar os pacientes várias significações começam a surgir. O preconceito social que sofrem por serem os doentes mentais. O preconceito por não se sentirem “normais”. Até as perdas de familiares que tiveram, como eles lidam com isso.
Um dos pacientes, com uma esquizofrenia mais crônica, mais desarticulado, traz certo dia a fala sobre a mãe que perdeu. Então fala que sentiu muita tristeza, que amava muito ela. Isso é importante, porque permite a esse paciente se sentir como sujeito, permite a ele demonstrar ali uma metáfora, uma significação. Seu discurso psicótico é o que verdadeiramente se diz, um inconsciente a céu aberto: Ele pula de um tema a outro, de uma lembrança a outra, aparentemente sem um sentido. Aos poucos agora, o grupo aprendeu a suportá-lo, a integrá-lo no grupo, mas esse paciente era alguém que mexia muito com o grupo todo. Ele ali ter feito uma metáfora, parece que indica uma direção de algo bom para sua patologia.


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Essa questão da significação eu gostaria de falar de um caso famoso do psicanalista Contardo Calligaris. Era um de seus pacientes, que tinha sido soldado no exército americano no Vietnam, depois foi Hippie na Índia. Depois vai para a França, torna-se um rico empresário da burguesia. Ele é levado pela esposa para análise porque está tendo um caso com a sogra. Calligaris o analisa por um ano, sem saber ao certo porque ele vem. Ele então desaparece da análise e Calligaris fica sabendo que ele está preso. Descobre que ele estava em um bar e uns criminosos que planejavam um assalto lhe convidam, ao acaso e ele decide ir.
Calligaris cria o conceito nesse caso de um discurso como uma rede, onde linhas horizontais e verticais se perpassam, mas sem um ponto de encontro, um ponto central. Ele fala da psicose como uma errância, o paciente erra, mas não como o neurótico que tem um destino final na sua errância, mas uma errância sem destino.
Nota-se no caso que Calligaris traz que tudo na vida do paciente aparece sem um significado. Ele não está inserido no tesouro das significações como o neurótico. Se ele fosse neurótico, a passagem de um soldado para Hippie faria ele se interrogar, faria ele tentar compreender esses dois lugares tão distintos. Ele nem mesmo cogita qual a significação de se tornar um criminosos, cometer um assalto. Um neurótico ficaria de debatendo, dialeticamente, por um bom tempo ou talvez para sempre, sobre o que significa ele tornar-se um criminoso. Certo que um neurótico torna-se criminoso, mas ele debate em seu íntimo o que significa ser criminoso, o que isso lhe acarreta, o que isso instaura dentro de si.
E aqui entramos no seminário 2 de Lacan, sobre como Freud concebe sua teoria psíquica e o lugar do eu.

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Freud escreve sua primeira tópica do aparelho psíquico. Tudo parece funcionar corretamente, até que surge os problemas dos sonhos.  Freud nota que nos sonhos as coisas se passam de uma forma diferente: por exemplo, se o sonhador tem fome, a direção do aparelho psíquico, na primeira tópica, indicaria que ele iria acordar e procurar comida, ir atrás de um bolo para comer, por exemplo. Mas não é isso que acontece.
O sonhador sonha, ou seja, ele alucina um bolo nos sonhos, exatamente para não acordar. O sonho serve como um protetor para manter o sono. O sonhador vai sonhar que está comendo um bolo ao invés de acordar e ir em busca de um bolo na realidade.
Isso faz com que Freud tenha de repensar sua primeira tópica. Pois parece que o aparelho psíquico, ao invés de ir de um lado a outro, do inconsciente para a consciência, nos sonhos faz um caminho contrário.
Freud então vai criar sua segunda tópica, onde isso é revisado.
Aqui, o que é importante, que Lacan ressalta, é que a consciência surge como uma tela, um lugar onde os estímulos externos vão ser recebidos, mas logo desaparecem. É em outro lugar, como diz Lacan, que as coisas irão permanecer. As memórias, as significações, se darão do lado do sujeito.  Como a paciente que diz a Freud que ele não pode mudar o mundo, não pode mudar as coisas que aconteceram e acontecem a ela. E Freud responde, que certamente não, mas pode mudar a postura que a paciente tem em relação a essas coisas. É a significação, o tesouro das significações.
Para dar um exemplo, Freud não se interessa se a pessoa relata o sonho como realmente aconteceu, de forma fidedigna, nem se ela esqueceu todo o sonho, conservando apenas um pedaço dele. Para Freud o que importa é o que aquele sonho significou para o paciente. É o relato do sonho o mais importante.
Aqui uma diferença crucial da psicanálise. Se um paciente relata que sua mãe é ruim, má, o psicanalista não vai buscar conhecer a mãe do paciente para saber se ela realmente é má. Ela pode ser uma pessoa extremamente gentil, isso pouco importa. Também não importa se o relato do paciente é real ou se é fantasia. Ele é rela para o paciente, o paciente acredita nele e é isso que importa. O relato está no lugar da verdade, a verdade do paciente e é isso que importa na clínica psicanalítica.
Se um paciente tem medo de um cachorro, se o vê como feroz e enorme, uma besta assustadora, pouco importa que esse cão seja um chihuahua. A verdade, ela está do lado do inconsciente, ou seja, do significado que esse cachorro ocupa na fobia do paciente, no seu medo.


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Entramos aqui na área da linguagem. Neste seminário 2, Lacan vai falar do seu famoso esquema L. Mas para entende-lo temos de falar do grande Outro e seu lugar na linguagem.
Interroguei a cerca disto com o psicanalista Mario Fleig, pois este é um conceito crucial dentro da psicanálise. Tudo começaria com os primeiro filósofos gregos, os que teriam vindo antes dos sofistas.
Heidegger já apontava em seu texto, o que é filosofia, que a filosofia ocidental tem uma característica própria de existir. Ela marca uma posição de se interrogar sobre tudo, sobre o sentido das coisas. É um ato de duvidar de tudo e buscar raciocinar sobre tudo o que há na vida. Como diz Heidegger, o ser humano é o único ente que pensa o ser do ente. Os animais não pensam sobre o sentido da vida, sobre o sentido dos seus atos. O ser humano é o único que pensa o sentido, qual o sentido da natureza, do universo, dos seus atos, o único ser que busca o sentido, que pensa o ser.
Pois bem, esses primeiros filósofos tinham uma questão, que era como podemos mentir? Eles pensavam assim, nós temos um saber, digamos eu sei que tem 5 laranjas em um cesto, como posso mentir, dizer que tem 7? Como posso ir contra o meu saber? Se eu sei que tem seis, como posso dizer outro saber, ter um outro saber?
Eles então teorizaram a questão do UM perfeito, do ser perfeito. Eles teorizaram que haveria um Ser perfeito que validava um saber. Se eu digo que tem 5, 6 ou 7 laranjas, são saberes diferentes, mas eu dizer que tem 5 seria um saber verdadeiro pois teria uma validade, realmente haveria um cesto com 5 laranjas. A posteori vai surgir os sofistas, onde irão filosofar que o que importa é que o discurso seja bem falado, bem organizado, ou seja, que o discurso seja convincente. Se eu convencer vocês que existem 6 laranjas, isso seria tomado como verdade, seja ela ou não. Platão vai na direção contrária dos Sofistas, criando depois o mundo das ideias, onde a ideia é que seria perfeita. Segue depois em Aristóteles, onde ele vai falar de lógica, onde a verdade estaria dentro da própria estrutura lógica.
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Mas retomando a questão do grande Outro, esse conceito de ser superior é retomado em Descarte, no seu racionalismo. E, como diz Lacan, Descarte não deixa de cair em um conceito de Deus enganador.
Esse ser superior dos gregos não é de modo algum nosso conceito de Deus. Nosso conceito de um ser superior já está estruturado em uma visão cristã. Para os gregos, seria um lugar que asseguraria a verdade. Mas Descarte nota que, se há um ser superior, ele nos engana.
Porque não basta muito para a gente notar que o mundo não funciona de forma organizada. Não há muita justiça no mundo, algumas pessoas sofrem um destino funesto mesmo sendo inocentes e boas. O mundo não funciona de forma organizada, a vida parece não ter muito sentido, o próprio da evolução das espécies vivas parece não ter nenhum propósito.
É nesse sentido que Lacan vai dizer que o grande Outro não existe, mas seu campo existe. Não haveria um ser superior, não haveria o ao menos um que escapa da castração, mas haveria o seu campo.

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Quando vamos ao médico por exemplo, e ele nos dá um diagnóstico, acreditamos em seu saber médico, em seu conhecimento. Há uma lógica dentro de seu raciocínio, mas como desconhecemos medicina, temos de acreditar em seus argumentos em crer que o que ele diz é a verdade.
Freud quando começa a trabalhar com seus pacientes, ele começa utilizando a hipnose com seu mestre Charcot. A hipnose o que isso significa?  O método hipnótico implica que o paciente abre mão de seu livre arbítrio e, pela figura de autoridade do hipnotizador, permite receber comandos deste. Para haver hipnose, é necessário que o hipnotizador encarne uma figura de autoridade, ou seja que o paciente confie inteiramente nele. Assim, o paciente permite ao hipnotizador tomar o controle de si mesmo.
Freud começa trabalhando com a hipnose vai modificando o método aos poucos, pois notava que esta tem um efeito temporário, além de que muitos não eram hipnotizados. Mas da hipnose, Freud retira sua grande teoria da transferência.
Para haver transferência, é preciso que a figura do analista se confunda com a do grande Outro. Ou seja, quando o paciente chega ao analista ele supõe nesse um saber, supõe que ele tem todas as respostas. Ele confunde o analista pessoa de carne e osso com o grande Outro, esse que teria todas as respostas da vida. A partir deste lugar do grande Outro que o psicanalista vai operar, mas, diferente do que acontece normalmente, ele não vai usar esse lugar para dar sugestões ao paciente, mas vai devolver o que o paciente lhe traz, para esvaziar este lugar do grande Outro.


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Hoje em dia fala-se muito da autoajuda. A autoajuda representa essa dimensão onde se teria resposta para tudo. Como se tornar uma pessoa perfeita, ter uma vida perfeita, todas as respostas estão lá. Mas como sublinhou uma vez o psicanalista Caon, no Brasil temos resposta para tudo, quando na verdade que importa é as perguntas. As perguntas bem formuladas é que são a direção da busca do conhecimento. As respostas achadas sempre são insuficientes.
O ideal da psicanálise é jogar o sujeito nessa posição de ser um filósofo, ou seja, questionar tudo. É pelo questionamento que se permite aos sujeitos raciocinarem e utilizarem a lógica em suas vidas.
E aqui pensamos o conceito de Piaget de operador lógico. O homem é esse que utiliza a lógica em sua vida, no seu mundo. Ele opera com a lógica.

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A lógica seria o mundo simbólico. Pensem que quando nós falamos existe uma estrutura gramatical, uma morfologia, toda uma forma de produzir discurso dentro da linguagem.
Por exemplo, se eu digo “meu nome é Jacques”, isso tem um sentido que todos que falam português podem entender. Se existe alguém que não fale português, que fale alemão por exemplo, ele não entenderia o sentido dessa frase. Mas se eu digo “Eu Eduardo não Leandro sou Jacques”. Essa frase estaria perdendo o sentido, seria uma estrutura psicótica, ou seja, o sentido simbólico que nós compartilhamos já não estaria sendo passado.

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Lacan cria o conceito de nome do pai, o nom do pér, onde nome é semelhante a não no francês. Lacan dizia que o filho é como uma presa para a mãe. O desejo da mãe seria como um jacaré de boca aberta. O não do pai, seria como um pedaço de pau, qualquer coisa que impedisse o filho de cair nesse desejo gigantesco.
O bebê, em sua relação com a mãe, assume ela como sendo o mundo. A mãe é tudo que ele conhece, é todo seu mundo. Ele é, digamos, um marionete nas mãos do desejo da mãe. É preciso que surja algo, um terceiro, algo do mundo que separe a mãe e o bebê. Pode ser algo simples, digamos que a mãe precise dar atenção a um namorado ou precise assistir TV. É algo que faça uma fissura na relação mãe-bebê, mostrando que há outras coisas, um outro mundo além dessa relação.
Esse terceiro ponto, que é o nome do pai, será o lugar do grande Outro, será quem vetoriza, quem dá um sentido, uma direção.
É o que faz com que vocês entendam aquilo que eu falo é o que faz com que minha fala tenha um sentido ou seja, que está direcionada para a verdade.
Nós nunca alcançamos a verdade absoluta, mas nos dirigimos para ela. Por isso Lacan situa a linguagem como circulando a verdade, a verdade é sempre dita. Nosso discurso tangencia a verdade mas não a alcança.
­Um exemplo disso está na própria religião. O verdadeiro crente sempre mantém em si algo de uma dúvida em relação a sua religião, uma dúvida se Deus realmente existe. É esse lugar de dúvida que faz com que várias religiões briguem entre si. Se pensarmos tanto católicos como judeus, mulçumanos, budistas, todos temos o mesmo Deus, Deus é um só. É porque se pode duvidar de seu lugar, daquilo que Deus quer, onde cada religião vai interpretar o que Deus quer a seu modo que surgem as brigas. Cada um interpreta a seu modo o que Deus quer e está feita a briga.

Imaginem se, por acaso, o céu se abrisse e uma voz lá do alto falasse. O que quer que a voz de Deus falasse, não se poderia contestar. Ela seria absoluta. Seria ai o lugar da verdade absoluta, incontestável.
A psicose estaria neste lugar, onde o delírio surge como um significante com um significado absoluto, único. Ao contrário da neurose, onde sempre há a dúvida, na psicose há uma certeza no delírio.
Uma vez, em uma apresentação de pacientes com o psicanalista Mario Fleig, um paciente psicótico relata quando passou perto de uma igreja e ali pensou que era Jesus. Fleig depois demonstra para nós que, o momento em que o paciente diz que pensou que era Jesus, que achava que era Jesus, é um momento depois do surto. Na hora em que ele estava em surto, ele não tinha dúvidas, ele era Jesus. Isso é uma característica da psicose, a falta do nome do pai no campo simbólico surge como um delírio de certeza no Real. No delírio, ele era Jesus no Real.

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A estrutura psicótica possui assim uma base fisiológica também, como diz Lacan, não é psicótico quem quer. Haveria uma pré-disposição para a psicose. Essa pré-disposição seria este algo que fracassa na aquisição da linguagem. Isto que vetoriza o sujeito e que dá o lugar da verdade. Por isso que a verdade é sempre a verdade do sujeito. A realidade psíquica, em psicanálise, é sempre a realidade do sujeito. Embora no simbólico compartilhamos uma mesma realidade através da lógica, da estrutura simbólica, o imaginário, as significações, são da ordem do singular.
Imagine que três pessoas vão falar sobre o cachorro. Cachorro é um termo universal, é um animal do nosso mundo, é um ser que tem um conceito científico. Mas o que um cachorro significa para cada um é diferente. Quando penso em cachorro, pode vir a lembrança do meu cachorro da infância, do meu cachorro que eu tenho, de um cachorro que me mordeu etc. Para cada um dos três sujeitos o conceito, o significado de cachorro é diferente. Por isso a significação comporta algo de singular, da nossa singularidade e é isso que nos faz sujeitos.
Imagine por exemplo duas pessoas, uma sofre um acidente de carro e nem se importa, aquilo para ela é comum, ela até esquece que sofreu. Outra sofre o mesmo acidente, mas isso faz com que ela nunca mais entre em um carro. Veja que novamente as significações do evento ocorrido são diferentes para cada pessoa.
É por isso que na psicologia se busca dar voz para as pessoas. Não faz muito tempo, na década de 50,60 se realizou o movimento antimaniconial. Era uma forma de mostrar que os doentes mentais eram pessoas. O que isso quer dizer? Quer dizer que eles possam falar, ter voz.
Os doentes mentais saem daquele lugar de que tudo que dizem não tem importância, é loucura, sua fala não importa porque são doentes. Isso é algo que buscamos assegurar no grupo de conversa, que eles tenham voz, que possam dizer o que querem.   Quando a psicologia luta pela subjetividade das pessoas, luta para que elas possam se expressar, possam dizer o que querem.
Cada um possui um saber, uma cadeia de significações singular e é importante que sejam escutados. Uma sociedade melhor implica nisso, escutar os doentes mentais, os autistas, os deficientes, os transgêneros, homossexuais, etc. Que eles tenham um lugar para falar, pois ser um ser humano, um cidadão, é ter um espaço de fala, de traduzir sua singularidade dentro do universo simbólico.

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E para falar de singularidade, temos de falar do esquema L de Lacan, que vai nos mostrar como uma análise funciona, como é o método psicanalítico concebido por Freud. Lacan como sempre sublinhou, faz um retorno a Freud, é a mesma teoria, o mesmo método que Freud utiliza.
Como falei anteriormente, na transferência o paciente confunde o analista com o grande Outro. Ao fazer essa confusão, ele pode sair do lugar de espelhamento, que Lacan chamou de a-a linha. Esse lugar seria a relação do eu com o outro minúsculo, como o seu semelhante. Digamos que alguém lhe conte uma fantasia sexual. Você pode dizer que tem a mesma fantasia, pode dizer que isso é nojento, que ele não deveria pensar essas coisas, que é pecado ou que é normal, etc. Enfim, quando fazemos isso nos colocamos na mesma relação com a outra pessoa. Ou seja, damos um julgamento, ou um parecer sobre aquilo que ela nos diz. O ego, o eu, sempre está nessa relação de espelhamento com o outro. É por isso que para Freud o ego é dinâmico. Se vocês estão em um grupo que é homofóbico, se defenderem a homossexualidade, não serão bem vistos no grupo, ou seja, serão constrangidos e acabarão tendo de ser homofóbicos se quiserem pertencer ao grupo. Se estão em um grupo que é contra a homofobia vocês serão enaltecidos ao defenderem a homossexualidade. Como vêm, o ego é dinâmico, se modifica também conforme os grupos sociais a que pertence.
Mas Freud nota que para além deste eu há um outro lugar, o lugar do sujeito inconsciente. O ser humano de Freud é um sujeito dividido, fracionado, sem possibilidade de ser completo.
Digamos que, como no exemplo anterior, o sujeito lhes conta uma fantasia sexual e vocês devolvem a ele, perguntam, o que você acha que essa fantasia significa para você?
Na medida em que o analista ocupa esse outro lugar, onde o significado da fantasia já não será dado pelo outro, por seu semelhante- e vejam, no modelo anterior era o semelhante que dizia se a fantasia era algo comum ou pecado- quem vai buscar o significado é o próprio sujeito que externou a fantasia.
Ao sair dessa relação especular entre o eu e o outro, aparece então o sujeito do inconsciente. Esse sujeito do inconsciente está em relação ao grande Outro, esse lugar imaginário onde o paciente coloca o analista.
O sujeito do inconsciente é o tesouro dos significantes, isto é, o lugar onde o paciente vai produzir sua significação, sua singularidade.
São os efeitos dos discursos da sociedade, dos pais, da sua cultura. O fato de habitar a linguagem faz com que isso crie efeitos em nós, produzindo o que chamamos de sujeito.
Quando Sócrates pronuncia a famosa frase, conhece a ti mesmo, esse tu mesmo é um remeter ao sujeito. É o tu, tu mesmo. Assim, não é o que os outros acham que é política, o que me dizem o que é política, mas o que eu, eu mesmo acho que é política.
Quando Piaget vai falar de educação, ele ressalta que o mais importante é o aluno produzir um raciocínio para atingir a resposta certa, que isso é mais importante do que ter a resposta certa. É a construção do pensamento. O bom educador ensina o aluno a construir um raciocínio para achar a resposta, ao invés de apenas lhe fazer repetir um raciocínio já pronto, construído.
Lacan ressalta que o mais escandaloso em Freud, quando Freud começa a investigar o inconsciente, é que uma parte nele não só não sabe o que o diz, mas que ele nem mesmo sabe quem o diz, quem é este sujeito que fala. O discurso advindo do inconsciente, essa fala que tenta passar Freud não sabe nem mesmo quem é esse sujeito que fala.
O quando o paciente em análise diz tudo que lhe vier a cabeça e de repente vem uma frase, um conteúdo recalcado e quando o analista pontua o paciente nem mesmo se dá conta que a frase é dele, foi ele que disse. Calligaris cita o exemplo de que, nunca encontrou um paciente homofóbico que não tivesse sua homossexualidade recalcada em conflito.
Ao analisar-se, um paciente homofóbico que siga a regra da associação livre logo vai se deparar com a sua própria questão de homossexualidade. E é ele mesmo que falou, como diz o psicanalista Caon, uma vez que algo foi dito não se pode desdizer, foi falado. Pode-se tentar retratar, dizer que não era esse sentido, pouco importa. O que foi dito está dito.
É porque se diz muito mais do que se quer dizer, é porque falamos mais do que pretendíamos que a análise pode se efetuar. Os sonhos, para Freud, eram a via régia ao inconsciente. Eles representavam uma fala tentando passar. Aqui temos de fazer a diferenciação entre experiência e vivência.




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A Análise funciona, porque se fala da experiência, não da vivência. Ter um trauma, viver um trauma é uma coisa. Mas quando falamos desse trauma, o que esse trauma simbolizou para nós, isso é experiência, é fazer uma significação do que foi vivido. É por isso que na análise o paciente pode passar do desespero de ter vivido um trauma, uma perda, para transformar isso em algo libertador, um presente, uma felicidade.
Se a pessoa perde alguém amado, pode ficar em uma cama por dias, lamentando a pessoa amada. Mas pode também usar isso para ir atrás de outra pessoa e encontrar alguém que considere melhor e assim produzir o significado que a perda da pessoa amada foi muito bom, porque pode enfim achar alguém melhor. Vivência é o que estamos vivendo. Mas quando refletimos, pensamos no que aconteceu, isso se torna experiência.

Os sonhos são vivência. Nunca saberemos ao certo o que aconteceu dentro do sonho. Sabemos da sua elaboração, que já acontece ao acordar. Quando o paciente está contando um sonho, ele está relatando algo que ele vivenciou. Ao tentar entender o sonho, ele está assim adquirindo experiência, ou seja, refletindo neste lugar do eu, eu mesmo, como eu mesmo entendo aquele sonho que aconteceu. Por isso que o sonho é uma via ao inconsciente, ao que o paciente tem de mais singular, pois ninguém tem um sonho idêntico a outra pessoa.
Quando Freud vai falar dos sonhos, ele diz que, se o paciente sonha com o pai, essa figura do pai já é uma composição. Se o pai está rindo, está chorando, etc aquele pai que aparece no sonho ele é uma composição de vários momentos da vida do sonhador. Se o pai está usando um chapéu, Freud conseguia com a análise fazer o paciente lembrar de uma ocasião onde seu pai estava de chapéu e que foi importante para o sonhador.
Assim também o mesmo acontece com as lembranças. Uma lembrança vívida que nós temos, da nossa infância, já está misturada com outras posteriores que a afetaram. Essa lembrança é uma condensação de vários pedaços em algo imaginário.
Imagine quando nós lemos um livro, nós guardamos uma parte do livro, não todo ele. Uma parte que é significativa para nós, que se entrelaça na nossa forma de pensar de perceber o mundo. Talvez tenha uma passagem importante lá no livro que eu não perceba, exatamente porque eu não dou valor. Por isso que existe certos casos de autismo onde o sujeito consegue lembrar de todo o livro, sabe onde está cada palavra do livro, mesmo que seja um livro de 1000 páginas, mesmo que tenha lido só uma vez. Mas esse mesmo autista, com essa memória formidável, não consegue ler uma poesia do Mario Quintana e dizer o que ela significou, o que ela representa. Ele não consegue fazer uma interpretação de texto, produzir algo sobre o que aquele poema causou nele, porque ele não consegue responder do lugar de si mesmo, de sujeito.
Na psicose também há um fracasso disso e vemos isso em maior ou menor grau. Um dos pacientes do grupo é um excelente pintor, produz quadros lindos na aula de pintura. E eu o questiono, ele não pinta em casa? Porque não produz quadros quando não está na aula? Mas ele não o faz, porque isso seria se implicar nas coisas. Como diz o psicanalista Mario Fleig, a análise visa fazer o sujeito se implicar, isso muda a vida dele. Eu diria que é o momento em que saímos do lugar de plateia e subimos ao palco. Subir ao placo é perigoso, podemos errar o texto, não sabemos como as coisas vão ocorrer, etc. A plateia sempre está segura no seu lugar de plateia, de ausência, de não fazer nada. 
É algo característico do brasileiro, ele assiste tv parado, só olhando, depois vai para a Igreja, fica só olhando, vendo o pastor falar, depois vai para o comício, na mesma passividade bovina de ficar escutando o político. O brasileiro nunca sobe no palco, não se arrisca.
O neurótico, se o jogamos nesse lugar onde ele tem de se implicar, tomar a frente, aguentar as coisas no osso do peito, como se diz, ele vai, meio assustado, capenga, mas consegue ir. Consegue se implicar, ocupar esse lugar do eu, eu mesmo. O lugar de se sustentar a si mesmo. O psicótico não consegue, quando tem de responder do lugar de sujeito, ele não acha a metáfora paterna. Ele não consegue responder do lugar do si mesmo, porque está faltando isso que dá peso as significações.
Por isso os pacientes do grupo de conversa não podem ser levados a um extremo de uma angústia ou um stress. Porque não se sabe até aonde suas metáforas poderão segurá-los. Ele pode acabar fazendo um surto, produzindo um delírio onde o material recalcado retorna no Real.
Não podemos cobrar deles da mesma forma que se cobra de um neurótico. O neurótico frente a angústia faz um sintoma, talvez fique uns dias dentro de casa, talvez passe uns dias chorando ou vai fazer coisas que nunca fez na vida, pouco importa. Ele sempre acha um rumo, sempre acha algo que lhe segura. Por maior que seja a angústia, ele consegue produzir algo com ela e continuar a vida. Na psicose, frente a uma grande angústia, o sujeito pode produzir um delírio, esse delírio é uma certeza para ele, pois vem em suplência do lugar onde o grande Outro nos assegura ser a direção da verdade.





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Para finalizar, gostaria de falar para vocês de alguns aspectos do funcionamento psíquico do neurótico. Heidegger cria o termo Dasein, para falar do ser-aí, o vivente com diz Caon, este que está ai. Este que nós somos, no presente. Heidegger diz que o ser-aí sempre é chamado para dar testemunho do seu ser, prestar contas do seu ser. E isso é uma impossibilidade, haja vista que não conseguimos ter uma compreensão total da nossa existência. É por isso que se implicar, responder do lugar de sujeito, desse lugar do eu, eu mesmo, sempre é angustiante para o neurótico. Porque ele nunca está bem certo que lugar é este. Como diz Freud, é o mal estar da civilização, o estar mal, estar em um lugar que nunca é exatamente seguro.
A análise comporta assim dois momentos: um onde vem a fala do inconsciente, onde falamos algo através da associação livre, uma fala que espanta a nós mesmos e que nem aprece ser nossa, para um segundo momento, onde tomamos essa fala como nossa e refletimos sobre ela. Esse primeiro momento é o lugar do desejo, onde o desejo inconsciente aparece. Imagine por exemplo uma mãe que é dedicada a seu filho, que o ama muito. Mas ela está cansada, talvez irritada com algo que ele fez. E em um dado momento da análise, ele diz “eu gostaria de nem ter tido esse filho”. Não quer dizer que ela o odeie ou que realmente não o quisesse ter, mas quer dizer que naquele momento de stress ela não o queria ter tido. Ao abrir um significante em uma análise, a cadeia de significados corre para todos os lados. Nos amamos nossos filhos, mas também os odiamos às vezes. Ao dizer essa frase de que não gostaria de ter tido esse filho, a mãe constata que, dentro de si, também há um ódio as vezes, que nem sempre é bom ter esse filho. Isso não importa. O que importa é que ela descobre que ela possui essa parte dentro dela. O que ela fará com isso, qual a reflexão que ela vai tirar disto, não se sabe. Mas em geral não significa que ela vai  abandonar o filho, mas sim que ela constata que um pouco de ódio também faz parte da criação de um filho, pois se perde algo também, ao se ter um filho.  Assim a análise comporta dois tempos, um tempo passado, quando se constata a fala advinda do inconsciente e um tempo futuro onde o eu vai ter que lidar com essa parte que agora também é do sujeito.
O inconsciente é um lugar de incógnita, ele diz de um lugar de onde não sabemos exatamente como o mundo e as pessoas nos afetam, vemos apenas os feitos disso e refletimos em cima disso.
A lógica do inconsciente diz de uma estrutura que está agindo em nós sem nos darmos conta e só a posteori nosso eu consegue trabalhar com ela e operar logicamente dentro da estrutura simbólica.
Pensem nas pessoas por quem a gente se apaixona. Se analisarmos, veremos que há um padrão, que a pessoa por quem nos apaixonamos tem uma certa lógica que a escolheu. A profissão que escolhemos, se vamos ser astronautas ou psicólogos. Parece ter acontecido ao acaso. Mas o que Freud nos ensina é que não há acaso. O melhor exemplo que ele dá é a gente escolher um número a acaso. Esse número será tudo, menos ao acaso. Tem uma lógica aí embaixo que não percebemos, por isso chamamos inconsciente. Se fizermos uma associação livre, vamos descobrir que esse número tem um grande significado em nossas vidas, que nos diz algo. Isso é importante ter em mente, porque quando Freud analisa um ato falho, ele analisa sempre depois que ele ocorreu. Nos damos conta do ato falho depois que ele acontece. Eu vou dizer o nome de Freud e falo Lacan, reconheço meu ato falho, analiso ele, mas a lógica que fez o ato falho acontecer eu não tive consciência dela ela agiu em mim e eu só a reconheço depois. É depois que o sonho acontece que eu penso e reflito sobre ele, nunca durante. Se eu falo algo que não devia, é só depois que eu me dou conta, o que me levou a falar isso, no momento em que estava falando eu não consigo controlar. Por isso Freud vai dizer que somos controlados pelo inconsciente, que a lógica que rege nossas vidas eu só percebo depois que aconteceu. Por isso o lugar do sujeito do inconsciente sempre é uma incógnita, é ali onde eu não penso, onde estou à mercê de um funcionamento lógico do qual não controlo. É claro que o que o eu vai fazer com isso, entrará na racionalidade, no que eu posso fazer com meu desejo. Quer dizer que eu constato que sinto ódio de alguém, mas o que eu faço com esse ódio, se eu me afasto da pessoa, se eu a mato, se eu deixo isso e lado para ficar amigo dela, há toda uma gama de possibilidades do ego de manejar esse conteúdo vindo do inconsciente. Posso matar a pessoa apenas na fantasia, em um devaneio e assim estar bem para mim, não preciso ne xingar a pessoa.  O ego tem a racionalidade, a lógica racional, que nos permite lidar com as coisas no mundo e buscar uma forma mais adequada de organizar, estruturar elas. Mas a melhor forma, o caminho mais lógico implica que essa lógica esteja organizada em um sentido, que me dá a dimensão da verdade.
Digamos que, para eu comer uma banana, a forma mais lógica seja eu descascar essa banana. É o método mais correto, no sentido de que a banana mais saborosa é aquela sem casca. Mas na psicose não há essa dimensão, esse terceiro ponto que indica o melhor método, que indica onde está a verdade. É como se aquilo que diferencia a banana sem casca da banana com casca não existisse, então a lógica de descascar a banana não faz sentido.    Com a falta deste sentido, o psicótico vai produzir um delírio, uma formação inconsciente que surge como uma verdade absoluta, que irá surgir no Real. Um dos nossos pacientes, paranoicos, ouve pessoas chamando ele de veado. Seu psiquiatra lhe diz para duvidar dessas vozes e é o que dizemos para ele também no CPIP, que essas vozes são suas “paranóias”, como ele mesmo diz.
Mas quando elas acontecem, quando ele a está ouvindo, a voz é real. Ele não consegue diferenciar, no momento, a voz imaginária de uma voz real, para ele é tudo a mesma coisa. Se ele fosse neurótico, ele diria “parecia que alguém me chamou de veado”. Veja diferença, na neurose ele põe em causa, ele duvida se foi real ou não. O imaginário, para o neurótico, nunca é absoluto, é o fantasma, ele pode ser e pode não ser, é o ser e não ser, algo que é e também não é como a alma humana. A psique humana é essa transcendência, ela existe e não existe, está no corpo mas também não está. Chemama teoriza que a pulsão de Freud é um conceito que visa unir a parte física com a psíquica. Depois que a pessoa morre, não há mais psiquê. Mas sem o corpo, também não há psiquê. Não fazemos psicologia de fantasmas, de almas desencarnadas.
Na psicose não há essa dúvida a voz que o paciente escuta existe, a voz imaginária que é dele toma forma, surge no Real. Penso que o trabalho de um grupo de conversa com psicóticos é o de tentar produzir algumas metáfora, tentar estruturar a vida dos sujeitos. Ajudar a ver até aonde eles conseguem se socializar, realizar as atividades etc. Sempre escutando seus limites. Lembremos de James Joyce, que Lacan diz ter conseguido produzir alguma metáfora que o auxiliou por toda a vida, na sua atividade de escritor.

Penso que quando falamos aos pacientes que eles não são apenas doentes mentais que tem um problema, que não conseguem ser normais, mas que na verdade todos nós temos nossa patologia, neuróticos, psicóticos e perversos. Acontece apenas de que os neuróticos são maioria, por isso são ditos “normais”, a norma. Que os psicóticos tem que encontrar a sua maneira de viver com sua patologia, seu lugar no mundo, assim como os neuróticos são obrigados a lidar com seus sintomas. Ao falarmos isso, penso que já damos aos pacientes um outro olhar sobre seu lugar social, o que possibilita enxergar sua doença com outros olhos e assim construir um significado diferente da sua doença.  Um significado menos patológico, que possa lhes servir de metáfora. 

segunda-feira, 11 de junho de 2018

A angústia frente aos problemas do cotidiano e a angústia em cima do divã


Estava me interrogando esses dias acerca das diferentes angústias que sentimos- e me parecem ser diferentes- entre o acontecimento de algo no mundo “real”- o nosso cotidiano- e a angústia de falar deste acontecimento no divã, a angústia de ser analisante.

Quando eu sofro um acidente e perco uma perna, isso me causa uma dor terrível, uma angústia. Mas a maior angústia, que eu irei falar no divã, é a angústia que eu sentirei quando eu falo sobre o que a perda dessa perna significa, o que ela representa em minha vida: Falarei de quando eu corria, quando andava de bicicleta, etc. De tudo que eu perdi ou penso perder quando perdi minha perna. A dor de perder uma perna é terrível, mas o significado de perder uma perna é mais terrível ainda. Como diz Lacan, a consciência é como uma tela, uma tela de televisão. A construção do significado, da cadeia de significantes, ocorre alhures, em outro lugar. Isso é o que Freud nota quando vai separar a consciência do inconsciente. A consciência, o que quer que isso possa ser definido, é como algo que recebe estímulos vindos do mundo, mas ela é burra. É do outro lado, dentro da cadeia de significantes que isso vai trazer seus efeitos mais importantes. A perda da perna é uma constatação e isso seria a consciência. Mas o que isso significa para mim, que terei de usar uma perna mecânica agora, que não poderei dançar, não poderei correr, ou que poderei fazer tudo isso, mas agora preciso utilizar uma prótese, e como farei para conseguir uma prótese, toda essa estruturação logística ocorre em outro lado, é os efeitos que o Real irá realizar em minha psiquê.  Como a paciente que, uma vez, diz a Freud “mas o senhor não vai mudar o mundo, como vai me ajudar?”.  Certamente a psicanálise não muda o mundo( não vai acabar com a miséria, por exemplo), mas vai poder mudar a atitude da pessoa frente a este mundo, sua psiquê, ou seja, ele pode ir em busca de encontrar formas de sair da miséria ou de lutar contra ela socialmente.  

sábado, 9 de junho de 2018

Blog sobre psicanálise, arte filosofia e afins: entrevista com Moustapha Safouan

Blog sobre psicanálise, arte filosofia e afins: entrevista com Moustapha Safouan: Grand entretien avec Moustapha Safouan par  Michel Plon et Tiphaine Samoyault Source :  En attendant Nadeau, journal de littérature, d...

entrevista com Moustapha Safouan

Grand entretien avec Moustapha Safouan

Dans le sillage de son grand livre sur la psychanalyse, publié en 2013 aux éditions Thierry Marchaisse et repris en « Folio » en 2017, La Psychanalyse: Science, thérapie – et cause, Moustapha Safouan a répondu aux questions d’En attendant Nadeau sur sa pensée et son expérience de l’analyse.

Né en 1921 à Alexandrie, Moustapha Safouan a quitté l’Égypte à la fin de la Seconde Guerre mondiale pour faire des études à Paris. Disciple de Lacan, avec qui il a commencé une analyse de contrôle en 1949, il a écrit depuis cette époque près d’une quinzaine d’ouvrages traitant aussi bien de questions théoriques – l’Œdipe, la castration, la fonction paternelle – que de questions techniques portant sur le transfert, la transmission et la formation des analystes.
Au sein de cette production, retenons La sexualité féminine dans la doctrine freudienne (Seuil, 1976), Jacques Lacan et la question de la formation des analystes (Seuil, 1983), La Parole ou la Mort (Seuil, 1996 ; édition revue, 2010) et l’important Pourquoi le monde arabe n’est pas libre : Politique de l’écriture et terrorisme religieux, qu’il a écrit en anglais et qui a été publié par Denoël en 2008. L’histoire de la traversée des langues que ce livre raconte est fascinante : les textes ont été écrits en arabe (mais pour moitié en arabe classique et pour l’autre en arabe égyptien), puis repris et auto-traduits en anglais, et traduits par d’autres en français, mais encore une fois repris et avec une nouvelle préface.
Cela donne une idée du texte comme étant une production jamais définitive, toujours à reprendre, toujours en voyage, qui est un éloge de la mobilité de la pensée, à l’inverse de la pensée arrêtée ou systématique. La traduction, la reprise, sont aussi des manières de lutter contre la domination. Car Moustapha Safouan est aussi traducteur : il a notamment traduit en arabe L’interprétation des rêves de Freud et en démotique égyptien Othello de Shakespeare. On peut dire de Moustapha Safouan qu’il est, terme qui peut paraître un peu désuet aujourd’hui, un lettré possédant dans diverses langues – l’arabe, le français et l’anglais – une immense culture psychanalytique et philosophique. Il a reçu chez lui, rue Guénégaud, Michel Plon et Tiphaine Samoyault, qui l’ont invité à reprendre tous ces thèmes.
Michel Plon : J’aimerais commencer par une question très générale. Où en est selon vous la psychanalyse aujourd’hui, aussi bien dans le monde qu’en France ? À la fin de votre livre sur la psychanalyse paru en 2013, vous semblez penser que, du point de vue de la théorie, cette histoire est terminée.
La psychanalyse, c’est l’histoire du complexe d’Œdipe et l’histoire du complexe d’Œdipe, c’est l’histoire de la famille. J’ai en projet un livre sur les avatars du complexe d’Œdipe, liés à l’évolution historique de la famille. On peut dire que dans le milieu des chasseurs-cueilleurs, la famille était non problématique : le fils voyait devant lui que son père était vraiment le signifiant du désir maternel et il s’apprêtait à vivre selon la même méthode. Avec la révolution agricole, naît le patriarcat, qui entraîne en quelque sorte la deuxième naissance de l’Homo erectus : au lieu de dépendre de ce que la terre donne, on produit cette terre. La justice romaine, par exemple, s’arrête à la porte de la maison. À l’intérieur, c’est la loi du patriarche. Et si le patriarcat n’a pas été une folie (car c’est une folie que de remettre un tel pouvoir, la loi, à quelques-uns), c’est parce qu’on a bâti, à côté de la maison, le temple. On a imposé le tiers devant lequel nous sommes tous égaux. Dans ce contexte, l’Œdipe a très bien marché puisqu’un fils, quelle que soit la tension entre lui et son père, devient le gardien de l’histoire et du nom de l’ancêtre, avec la protection également de l’égalité devant Dieu.
Les choses ont changé avec la révolution industrielle : d’abord, le père n’a presque plus rien eu à transmettre, la maison a cessé d’être un atelier, la mère a commencé à travailler dans les usines, la famille s’est coupée des sociétés. Le cadre de la famille n’a plus été le social mais l’État, or l’État limite l’autorité parentale. Ce vide absolu a entraîné la vogue des psychanalystes. Nous sommes venus pour remplir ce vide. À ce moment-là, comme la famille s’est vue composée d’individus qui n’avaient plus rien en commun (ni croyance commune, ni transmission), la tension entre le père et le fils a éclaté. L’histoire de la faillite des pères a éclaté d’une façon inimaginable avec les destructions du XXe siècle. Les camps, le génocide : les enfants ont vu des choses qu’on n’aurait jamais pu imaginer.
On a trouvé le complexe d’Œdipe – c’est la découverte de Freud – quand le père était encore là, mais il n’aura pas lui-même duré bien longtemps. De ce point de vue, nous sommes donc à la fin de la psychanalyse.
Tiphaine Samoyault : Parce que, pour vous, la fin du complexe d’Œdipe c’est la fin de la psychanalyse ?
En tout cas, c’est la fin de ce à quoi l’analyse avait affaire jusqu’à présent, aussi bien du point de vue thérapeutique que du point de vue didactique : dans tous les cas, on avait affaire à des analyses d’œdipes échoués, à des cas où la normalisation œdipienne avait raté, pour des raisons plus ou moins graves…
Michel Plon : À la fin du livre, vous laissez entendre avec un soupçon d’ironie que la théorie, elle, demeurera, comme faisant partie du patrimoine de la pensée, mais qu’en ce qui concerne la pratique c’est une autre affaire
Ce qui reste, ça aura été quand ça passera (mot de Lacan), c’est en effet la théorie et celle qui a mis l’accent sur le parlêtre. Lacan a transformé radicalement le complexe d’Œdipe en définissant le désir par le désir de l’Autre et en faisant de l’Autre un lieu du langage, dont la mère est la première à occuper la place.
Tiphaine Samoyault : L’importance du parlêtre nous conduit à la question de la langue et à celle de la traduction. Vous avez traduit vers l’arabe classique L’interprétation des rêves de Freud. Comment la langue arabe s’ouvre-t-elle au mode de pensée de la psychanalyse ?
Ce sont les circonstances, avec ce qu’elles comportent de surprise et d’inattendu, qui m’ont conduit à traduire ce livre. Je rentrais pour des vacances en Égypte en décembre 1953. C’était juste après la première séance de la Société française de psychanalyse (SFP), après la division. Avant, j’avais assisté à tout le drame de cette division et de cette séparation d’avec la Société psychanalytique de Paris (SPP). Lacan avait son premier séminaire à Sainte-Anne. Je me rendais donc en Égypte pour retravailler et ce fut le coup d’État de Nasser, qui a rendu tout travail impossible car on ne pouvait même pas acheter un livre et, en outre, il n’y avait plus de visa de sortie. Le seul moyen pour sortir était de travailler à l’Université pendant cinq ans, ce qui devait me donner le droit à un congé d’études me permettant d’obtenir ce visa de sortie. Alors j’ai profité des cinq ans que j’avais devant moi pour traduire Freud. Greimas était en Égypte et partageait avec Charles Singevin un véritable intérêt pour la psychanalyse et pour les écrits de Lacan sur le langage. Nous avons donc constitué un groupe, auquel participait aussi Hilde Zaloscher, une historienne yougoslave, spécialiste de l’art chrétien en Égypte, en particulier des portraits du Fayoum. Elle avait fait ses études à l’université de Vienne, elle était allée chez Freud, et elle m’a beaucoup aidé pour la langue, notamment pour comprendre certaines expressions très courantes de Freud. Et puis, grâce à elle, j’ai compris un rythme, celui de l’allemand qui coule comme de l’eau de source. J’ai commencé à traduire en voulant atteindre la même fluidité en arabe. Pour cela, je testais dans le salon que tenait mon père les histoires que racontait Freud, exposant par exemple l’histoire de l’homme qui vous donne des bouteilles et qui vous empoisonne avec, et, si je voyais rire les amis de mon père disant : « c’est exactement comme chez nous », alors je savais que j’avais atteint mon but.
C’est le livre le plus vendu en arabe, de Beyrouth au Maroc. Mais je n’ai pas touché un sou. Il a été publié par la Maison de la Connaissance Dar al-Maaref, fondée par les chrétiens maronites au Liban, qui ont fait les premiers grands dictionnaires modernes. J’avais envoyé un mot à Anna Freud pour lui dire que le texte était enfin disponible en langue arabe. La seule réaction qu’elle a eue a été de demander à la Hogarth Press de réclamer des droits à l’éditeur. L’Égypte ne faisait pas partie d’un accord global sur le droit d’auteur !
Michel Plon : Anna Freud ne vous a jamais répondu personnellement ?
Non c’est le seul écho que j’ai eu d’elle ! Pour revenir sur cette traduction, je dirais que je n’ai pas rencontré de problème de style ou de vocabulaire, mais que tout était une question de ton car chaque histoire a son ton dans L’interprétation des rêves. Il y a beaucoup d’éléments concrets sur lesquels on doit s’appuyer. La seule difficulté, ce fut pour traduire le terme « identification » : il a fallu inventer le mot en arabe. Depuis la traduction de ce livre, beaucoup de psychologues ont entrepris de faire un vocabulaire arabe de la psychanalyse. Mais moi, lorsque je traduisais, il n’y avait rien.
Le mot « conscience » n’existe pas en arabe, pas plus, dès lors, qu’« inconscient ». On a utilisé un mot qui veut plutôt dire « sentiment ». Ma solution fut de faire des notes expliquant les termes qui n’existaient pas en arabe. Mais c’est surtout ces deux mots-là qui manquaient, et toute la gamme des termes forgés autour de « conscience » : conscience de soi, inconscient… À la vérité, le mot même de sujet n’existe pas en arabe. Sauf pour l’analyse grammaticale, mais on utilise un mot qui veut dire « le premier de la phrase ». « Le premier » n’est pas le « sujet ». J’ai pris le mot qui veut dire « un tel », ou « le même ».
Tiphaine Samoyault : Aviez-vous lu Freud pendant vos études ? Dans quelle langue ?
J’ai toujours vécu dans un milieu très littéraire : on était noyés dans les lettres. Le milieu de mon père était extrêmement spirituel. Comme lui, ses amis étaient passionnés par les grandes œuvres de la littérature arabe classique, sans doute en réaction à l’occupation anglaise. Mais ils étaient très ouverts aux sciences européennes, en particulier celles qui étaient nouvelles. Ce qui caractérisait aussi ces êtres, c’était moins l’érudition que la créativité qu’ils manifestaient avec leurs bons mots. Cette époque a d’ailleurs été désignée par un vocable assez difficile à traduire (‘asr alzorafaa) qui cumule les deux sens de « lettré » et de « lutin ». Un jour (j’avais entre dix et douze ans), un des amis de mon père a ouvert son parapluie en plein soleil. Un autre a manifesté son approbation par un mot qui a déclenché des rires bruyants. Je n’en comprenais pas la raison jusqu’à ce que je me rende compte que le vocable renvoyait à une racine de trois consonnes qui, en arabe dialectal, conjuguait les sens d’ombre et de faute. Il disait un remerciement ambigu : pour donner de l’ombre et aussi pour nous avoir égarés. Mon éducation a été ainsi très marquée par le mot d’esprit et par le double sens. On avait des traducteurs inouïs à l’époque. Ensuite, le régime de Nasser a muselé cette classe intellectuelle et spirituelle.
Tiphaine Samoyault : Dans Pourquoi le monde arabe n’est pas libre, vous décrivez les mécanismes de la domination. Vous montrez que si le monde arabe n’est pas libre, c’est qu’il est doublement contraint : par la dichotomie entre langue classique, écriture, et langue vernaculaire, qui rend difficile, voire impossible, l’accès des non-lettrés à la culture religieuse et lettrée ; et par la domination occidentale, comme vous l’expliquez très bien dans la préface à la traduction du Discours de la servitude volontaire de La Boétie, « Les facteurs de la domination occidentale », texte repris comme premier chapitre de Pourquoi le monde arabe n’est pas libre. Voyez-vous l’oppression au cœur de la langue ou bien sont-ce des usages de la langue qui asservissent selon vous ?
Je ne vois pas en quoi la langue serait oppressive. C’est l’appropriation de la langue qui l’est. Avec l’islam, la coupure de l’écriture s’est aggravée. À l’époque des pharaons, on écrivait la langue qu’on parlait. Mais avec l’islam, on ne se mit à écrire que la langue du Coran et on cessa d’écrire la langue qu’on parlait. La langue a été sanctifiée. Aujourd’hui, aucun régime arabe (de l’Arabie saoudite au Maroc) n’acceptera jamais d’enseigner l’arabe parlé : seule la langue de Dieu a une grammaire. Du même coup, cela assure le pouvoir politique, ce qui arrange bien l’Occident. En Égypte, nous sommes un peuple où peu de gens savent lire un journal mais où domine la fatuité de l’esprit religieux. Un Libyen m’a dit un jour : « Quelle merveille, Dieu a fait faire tout ça (les avions, les machines à laver, les maisons…) pour que nous en ayons la jouissance… »
Michel Plon : Tu as aussi traduit vers l’arabe vernaculaire égyptien Othello. Qu’est-ce que cette traversée des langues apporte à ton travail analytique ? Pourquoi as-tu choisi Othello ? Ce choix peut nous conduire à la question de la femme et de la féminité : sur le versant culturel, la femme dans le monde arabe, et sur le versant de la psychanalyse, ce qu’il en est de la sexualité féminine et au-delà.
J’ai sans doute choisi Othello parce que le personnage est arabe et porte un nom arabe. Le thème me paraît en outre plus facile à suivre que ceux des pièces historiques de Shakespeare. Hamlet évoque un univers culturel trop différent. Je voulais traduire Othello dans une langue vulgaire pour donner la preuve qu’on peut faire une littérature de cette langue-là, qu’elle n’est pas faite que pour injurier les voisins ! Le résultat a été un désastre parce que personne ne lit dans ce pays. Le livre ne s’est pas vendu. La pièce a été jouée, mais la scène de mariage a été jouée avec des danses du ventre, etc., de façon tout à fait ridicule.
La place de la femme, la question de la jalousie, sont aussi ce qui m’a intéressé dans cette pièce. En Égypte, depuis les années 1920, la femme (la femme bourgeoise) a commencé à sortir de la maison. Nawal el Saadawi a introduit le mouvement féministe, mais elle a rencontré des résistances pour former un véritable mouvement car les Égyptiens n’ont pas de tradition du travail en commun. L’étatisme empêche de travailler ensemble. Mais elle a eu quand même beaucoup d’influence. À l’heure actuelle, on voit des femmes dans tous les services. Il y a eu une émancipation, mais qui ne touche qu’une seule classe, la plus occidentalisée. À la campagne, même si la femme a toujours travaillé, la séparation s’est maintenue entre les hommes et les femmes. Cela s’est accentué avec l’augmentation du chômage. Sur le plan sexuel, c’est certainement une société narcissique ; le harcèlement sexuel existe très largement dans ce pays. Il doit y avoir une différence énorme entre Égypte et Liban. Le Liban est plus prospère, il y a moins de chômeurs, plus d’éducation, l’esprit de la ville domine. En Égypte, les choses sont plus violentes, ce qui est dû à une certaine ignorance culturelle et au chômage.
Michel Plon : Mais en France ? Qu’en est-il des mutations de la famille et des défis qu’elles posent ? Comment la psychanalyse se positionne-t-elle aujourd’hui par rapport à ces mutation sociales, à la question du couple homosexuel, à celle de l’adoption par ces couples ? Vous savez comme moi combien cette question fait débat dans le milieu psychanalytique mais, en même temps, c’est un débat clôturé, fermé.
Ce qui change, c’est que ce qui s’appelle la main invisible du marché a englobé l’enfant. L’enfant est devenu un objet mercantile. Vous achetez le sperme, les ovules, la mère porteuse… Cette industrie, qui pèse déjà lourd dans le marché mondial, transforme les enjeux de l’analyse (et la justice aussi), elle transforme tout ce qui fait la culture. On pourrait dire qu’il n’y a qu’une seule chose dans laquelle la culture n’est pour rien : c’est que l’enfant vient du ventre de sa mère. La reconnaissance par le père, c’est l’esprit même de la culture. Quand le père devient démontrable biologiquement, on quitte la sphère de la reconnaissance, donc on transforme profondément la culture. Le juge lui-même ne sait plus qui est le père : est-ce celui qui a reconnu l’enfant ou celui qui est démontré biologiquement ?
Michel Plon : Les psychanalystes prennent-ils la mesure de cette transformation ?
Non, ils font silence là-dessus. Ils continuent comme si le monde extérieur n’avait pas changé depuis Freud. Il y a un débat très sourd entre ceux qui disent qu’il faut étudier les transformations sociales et ceux qui disent que rien n’a changé. Le seul qui a fait attention, ne serait-ce qu’aux phénomènes de la modification des demandes faites aux analystes, c’est André Green. On ne s’adresse plus seulement à nous pour des névroses, des phobies, des obsessions, des hystéries, mais pour des états borderline, comme l’homme aux loups, c’est-à-dire des analysants ou des analysantes susceptibles de traverser une crise psychotique au cours de l’analyse.
J’ai d’ailleurs une théorie là-dessus : dans l’état borderline, il n’y a pas forclusion du nom du père, mais forclusion de la métaphore paternelle, ce qui fait qu’il n’y a pas le manque de l’intégration de l’ordre symbolique. À l’âge de l’Œdipe, le père de l’homme aux loups était un mélancolique, un absent ; il ne pouvait donc pas travailler comme signifiant du désir maternel. C’est ma théorie sur le borderline
L’insouciance de certains psychanalystes que vous pointez me paraît parfaitement juste. Sous prétexte que les structures ne changent pas, que les névroses, psychoses ou perversions ne changent pas, il ne serait pas nécessaire de prendre en compte les changements du monde. Comme nous sommes tous les enfants de la même époque, est-ce que les analystes eux-mêmes ne sont pas borderline en grande partie ?
Michel Plon : Dans votre livre, un point qui peut apparaître très technique, mais qui à mon avis n’est pas seulement technique : vous dites qu’il n’y a pas de fin de l’analyse.
Quand il y a un travail, on doit bien penser qu’il va quelque part. Mais vers quoi ? Les avis sont partagés. Pour Melanie Klein, cela va vers l’assomption de la séparation. Lacan, à cette occasion, a fait une distinction entre la dépression symptôme et le deuil authentique. Il peut y avoir aussi le fait d’assumer l’être pour la mort, mais finalement la fin est quand même la castration symbolique, et pour arriver là il faut traverser quelque chose qui s’appelle le fantasme fondamental. Selon l’analysant, selon son histoire, tel aspect dominera. Une autre fin peut être encore la chute du sujet supposé savoir, la chute de celui dont j’imagine qu’il va me dire ce que je suis. Donc il y a bien des fins, mais l’idée de mener son analyse jusqu’à sa fin est une fausse question. On peut d’ailleurs compter sur les doigts de la main les cas où l’on peut dire qu’il y a eu assomption de l’être pour la mort ou traversée du fantasme fondamental.
Michel Plon : Qu’en est-il aujourd’hui de la passe, cette procédure inventée par Lacan et qu’il reconnut par la suite être un échec ? Quelle est votre position sur le devenir de cette procédure ?
L’idée de Lacan avec la passe était de sortir définitivement du conflit né en 1926 autour de la question de l’analyse profane, l’analyse pratiquée par des non-médecins. Pour Lacan, la scientificité de la psychanalyse était un horizon et la passe un moyen d’y accéder : la passe était une réponse psychanalytique à la question de la formation des analystes et donc à celle de la transmission. La psychanalyse didactique par laquelle s’effectue la transmission ne relève d’aucun diplôme, d’aucune formalité institutionnelle extérieure à la psychanalyse. Lacan voulait que la psychanalyse soit bien distinguée d’une quelconque forme de sacerdoce, d’où l’introduction qu’il fit de la dimension du désir, le désir de l’analyste comme point d’aboutissement de la didactique et donc différent du désir d’être analyste que peut manifester un sujet au début d’une analyse. Lacan fut le premier à percevoir que le désir de l’analyste relève de l’ordre de la vérité. En juillet 1978, Lacan a tiré la leçon de l’expérience de la passe en déclarant que la psychanalyse est intransmissible. La mise en œuvre de la passe dans le cadre de l’EFP [École freudienne de Paris de Psychanalyse] entre 1968 et 1980 n’a pas donné une quelconque élaboration du savoir : le bilan a été nul, d’où le verdict de Lacan que la passe était « un échec ». La passe n’a apporté aucune réponse quant aux raisons qui pouvaient pousser un analysant à exercer ce « métier impossible » qu’est la psychanalyse, d’où cette autre conclusion de Lacan selon laquelle la passe n’a rien à faire avec la psychanalyse. L’idée ne rimait à rien car, dans une analyse, il s’agissait de finir le travail que l’échec de la normalisation au début laissait en chantier. Parce que ce qui fait les névroses, c’est quand même que l’objectivation nuit au sujet. Je veux dire qu’on peut faire un travail sur le malheur pesant qu’entraînent les tentations du don, avec tout ce que comprend le fait de se méprendre. On cherche à modifier le mode d’existence d’un sujet, à pouvoir le faire exister pour qu’il n’ait pas de pouvoir sur le désir de l’autre.
Tiphaine Samoyault : Ce qu’Othello ne comprend pas…
Au regard du désir, le don apparaît toujours comme mesurable et intéressé, il paraît petit confronté au désir. Othello est possédé par une névrose de possession et de contrôle absolu. De celui qui refuse que le désir soit un don.
Tiphaine Samoyault : Une des manières de lutter contre le rationalisme réducteur peut être encore une fois le recours à d’autres langues. Vous intégrez des termes arabes dans votre discours sur la psychanalyse. Par exemple, vous dites la force d’un terme comme al-mourid en arabe qui veut dire le disciple et qui signifie littéralement le « désirant » ou le « voulant ». Pensez-vous que des termes arabes pourraient modifier la langue de la raison, qu’ils seraient utiles pour penser autrement ?
L’élève, l’étudiant, c’est en effet celui qui veut. Cela se dit surtout quand on s’adresse à un maître. « Al-mourid », c’est ce que j’étais pour Lacan. Je me suis intéressé à la langue et aux langues. Quand j’ai quitté l’Égypte, je voulais aller à Cambridge pour rencontrer Wittgenstein. Mais je suis venu à Paris, je suis tombé névrosé ici à Paris car je n’avais pas de rapports de proximité avec les professeurs. Ma chance a été d’aller en analyse chez Marc Schlumberger. J’étais ami avec un Égyptien qui voulait écrire une thèse sur le langage chez Husserl. Grâce à lui, j’ai côtoyé Bachelard, qui a parlé un jour d’un jeune psychologue n’ayant pas la réputation qu’il méritait (Lacan). Je suis alors allé à la Société psychanalytique de Paris, en 1947, et Lacan m’a tout de suite intéressé car il était le seul qui parlait de langage ; il parlait de la parole, ce qui fait que j’ai commencé à penser qu’il y avait quelque chose à faire en France. Dans le monde anglo-saxon, on parlait du langage mais pas de la parole. Je lui ai demandé un contrôle. Il m’a demandé de parler de ma provenance, et lorsque je lui ai dit que quand j’étais né mon père était en prison, il a dit, de façon très sympathique : « alors vous avez été élevé par des femmes ! » Je lui ai dit non, j’avais un troupeau d’oncles !
De tous, c’est de lui que j’ai reçu le plus. Pour lui, tout ce qui s’appelle différence, quelle que soit sa place sociale, est intéressant. Chacun n’a que le poids que lui donne sa parole. On n’avait, de part et d’autre, aucune thèse à défendre.
Michel Plon : Est-ce qu’à la fin de sa vie il n’a pas été enfermé dans les difficultés de son école ?
Oui, c’est sûr. Il voulait des psychanalystes sauvés de la psychologie ou du comportementalisme, il était devenu militant. Or on ne peut pas être psychanalyste et militant. On ne peut pas mener une analyse tout en ayant le désir affiché de quelque chose. Il a été victime de ce dont il avait fait une cause. Son rêve d’une école purement psychanalytique échappant aux effets institutionnels, aux luttes de pouvoir, à tous les effets de prestance, s’est révélé être effectivement un rêve : il a été tenté d’affirmer par divers moyens un pouvoir, une autorité autre que celle que lui donnaient son œuvre et son enseignement, et cela a suscité des résistances, des luttes internes. Sans doute y a-t-il un lien entre cet échec-là et ce qui fait suite à la dissolution de l’École, à savoir une division incessante entre groupes, associations, écoles, dont les membres se réunissent invariablement autour d’un guide, d’un chef censé les guider vers on ne sait quel paradis.


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